Há uns anos pintei uma tela que inicialmente teria o título de “O Naufrágio”. Fiz os esboços conforme a ideia me ia aparecendo cá dentro: um momento trágico onde tudo desaba, se escangalha e se reduz a pequenos restos que deixam de ter qualquer valor. Naquela altura estava numa fase em que fazia sentido pintar um quadro a óleo assim. Lembro-me bem.
Quem já pintou a óleo sabe que é um processo lento que tem tempos certos, pausas longas para secagem das tintas, enormes períodos de preparação dos materiais e, depois, de limpeza de pincéis e outros utensílios. Não é fácil pintar um quadro a óleo num só dia. Este durou semanas de trabalho, como é hábito com os meus quadros.
E foi assim que um quadro que começou por ser uma história de um naufrágio acabou chamando-se “A Tempestade”. Ao longo do processo preferi contar a história da tormenta destruidora, mantive o pobre barco a navegar e, apesar dos estragos, nele pode ler-se que (à direita e à esquerda) já se podem ver nesgas de sol que, como sempre, fazem renascer a esperança…
Tenho esse quadro na minha sala. Todos os dias olho para ele como se olha para um espelho. Vejo cicatrizes, nódoas negras e todas as mazelas do mundo. Mas não vejo nenhum cadáver nem nenhum barco afundado. Nas minhas tempestades não existem danos irreparáveis. E, enquanto eu puder decidir sobre os quadros que pinto, assim continuará a ser.
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